sábado, 14 de janeiro de 2012



Abro o caderno gentilmente colocado na mesinha ao lado da minha cama. Um copo com um refrigerante qualquer  acompanha, assim como os óculos que insisto em usar mesmo não tendo nenhum problema de visão.
A tristeza me consome a ponto das lágrimas não terem força pra cair, assim tento pela última vez ser forte , não há resultado, continuo sentado, inerte.
Momentos de um passado não tão distante inundam meus olhos, chego a ouvir aquela voz de tamanha vontade de escutá-la em meus ouvidos, uma voz que muitos pensariam ser estranha, mas para mim, possuía a melodia perfeita, o verdadeiro cantar dos anjos.
A nona música em meu celular, como sempre, escolhida por nada, aleatoriamente. Busco esperança de ser algo que me relembre ainda mais você. Um sorriso me escapa, a primeira lágrima cai, molhando a folha do caderno recém aberto. Murmuro um palavrão, da mesma maneira que diz, com toda a entonação.Sorrio novamente, trocando a música e deixando mais uma lágrima cair.
Toco meu ombro, sentindo falta repentinamente de seu abraço tão apertado, e sufocante,as vezes. Mais uma gota caí, rolando pela minha face como se a estivesse rasgando.
Um filme de longos anos passa pela minha mente, devagar, quase torturante, salvo pelos momentos que de tanta tragédia chega a ser cômico. Paro e penso : '' Por que raios estou fazendo isso comigo mesmo ?''.
Uma porta trancada, um eu te amo sussurrado, um beijo na chuva, uma palavra horrível, uma briga, promessas quebradas, cicatrizes arroxeadas no meu braço, vivas como se eu as tivesse acabado de cortar, um riso sádico, outro beijo, uma pessoa, mais uma música, olhos terrivelmente verdes que causavam nossa confusão para distinguir a cor, outros olhos verdes que me fizeram não querer mais enxergar,  escuro, dor, mais dor e por fim,dor.
Pego meu telefone mais uma vez, apenas para reler algumas palavras chulas escritas ali, relembrar chances que nunca cheguei a ter, apenas dentro de minha mente, e quem sabe, meu coração.
Meu ouvido esquerdo lateja, minha supertição aponta que é você, maldizendo meu nome, tornara-se um habito: lembrar dele, a cada mínimo detalhe.
O choro não caí mais tímido como outrora, agora vaza por meus olhos como uma represa sem compotas de contenção, parecendo uma resposta de meu corpo a todas as sensações que tentei guardar.
Me endago o por que de tamanha provação, me contento, acho injusto, fico com raiva... e isso termina todas com a mesma coisa : um Eu te amo, fraco e borrado em meu caderno...pelas minhas próprias lágrimas.
Sei que ao acordar, me sentirei bem, perdoarei qualquer coisa que vier dele, esquecerei de tudo que pensei, de todas as possibilidades e fatos que me impossibilitam de estar ao lado daquele que escolhi para amar. Esquecerei pessoas, palavras, olhares e me afogarei nas nossas lembranças, tão vivas dentro de mim, tão intocáveis, como o sentimento que apesar de tudo nunca mudou.
Um dia quem sabe tudo que idealizo será verdade, até lá, apenas vou passando os dias, um a um, assistindo-o do meu lado, por ventura até trocando alguma espécie de carinho, me sentindo útil, mas depois, lembrando que não passará disso, e que foi apenas mais um momento importante pra mim, e um momento qualquer a ele, inútil, descartável, mais um.
O copo com refrigerante esvaziara , o choro me destruíra mais uma vez, era hora de encerrar mais um capítulo, me preparando assim para dormir, e começar tudo de novo.

-  David.

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