sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Crônicas sobre a morte

Viver não é bom, definitivamente não é. 
Respirar é doloroso, conviver é imundo, ter que mascarar o que se sente é frustrante.
Viver não é bom, e há quem diga que a vida é um dom divino. Se viver fosse um dom, não haveria tantas mazelas no mundo.
Viver não é bom, você cansa de lutar e o cansaço passa a ser a primeira sensação do seu dia.
A vida é algo tão valorizado, ou ao menos em discurso, mas por qual razão ? Pelos laços que se faz ? Pelas relações com as pessoas em que convivemos ? Pelo simples fato de respirar ?.
Viver não é bom, definitivamente não é. Não é bom ter ar em seus pulmões e uma vontade constante de não existir, de pensar que seria melhor para si não conviver nesse mundo podre.
Viver não é bom, e nem existir com medo de um mito sobre o que nos espera "além da vida". E esse medo não tenho mais, pois qualquer lugar seria melhor do que estar viva.
As coisas seriam melhores, mais fáceis, menos peso morto e mais ação. Menos complicações, menos aflições.

Admiro quem diz que viver é bom, pois para mim, definitivamente não é e nunca será.
E espero que tudo isso acabe o mais rápido possível.

- Biah (17/11/17)

domingo, 20 de agosto de 2017

O sentimento genuíno

Esse blog, ao longo de sua história, sempre contou um pouco sobre o que eu chamo de amor, ou sobre gostar de alguém que não me correspondeu/corresponde, sobre sentir as coisas com intensidade, ou até mesmo sobre deixar de senti-las em algum momento da vida. Mas são poucos os textos daqui que escrevo genuinamente sobre o que o amor é, e sequer consigo pensar em outra pessoa sem ser a primeira inspiração dos meus dias.
Muitos que talvez leiam isso aqui pensem que se trata do amor que tenho por meus pais, ou irmãos, ou alguém considerado família. E, ainda que esse seja imenso e não dê para falar sobre ele ou defini-lo, creio que não representa exatamente o seria amar alguém externo, fora de meu convívio pessoal.

Creio que amar alguém consiste em, primeiramente, ver a pessoa feliz, e se preocupar de verdade caso isso não esteja ocorrendo e algo possa ser feito. Consiste em, mesmo distante, querer saber como ela está. É pensar em revê-la constantemente.
Amar alguém é apoiar, presencialmente ou distante, como puder ser feito. É mandar palavras de incentivo, amor e consideração mesmo que estas não sejam lidas, é saber, em seu coração, que o que é sentido é grandioso, mesmo que não seja recíproco em sua interpretação.
É sorrir o sorriso da pessoa, de sentir uma gratidão imensa apenas por ela estar viva e respirando. De sentir algo tão imenso que é incapaz de explicar, e mesmo quando tenta as palavras fugirem e a única lembrança que se vem a mente é o tom de sua voz e o abraço tão incrivelmente acolhedor. É sentir que ali é o teu lugar, dentro daquele abraço, onde aquela pessoa estiver, ainda que a veja por poucas vezes.
Amar consiste em reconhecer o seu próprio esforço, é passar por bons e maus momentos sem conseguir explicar o que sente, como falei acima. É ter muitos motivos para ser julgada por outrem e ainda assim persistir. É ser motivo de risos alheios, mas não estar nem aí pra isso.
É sentir uma saudade louca, que te escapa do peito e, em algumas noites, escorre pelos olhos. É encontrar conforto ao ouvir sua voz, ou algo que faça se lembrar o quanto aquilo é bom.
É saber que se tem apoio com um simples gesto espontâneo, é saber que se está ali, independente de qualquer coisa e saber as incontáveis lágrimas que caíram na espera longa e árdua por vê-la de novo.
Alegria, sono, raiva, medo, empolgação, ansiedade, mãos tremendo e lágrimas rolando pelos olhos com uma pequena possibilidade.
É se contorcer por dentro ao ouvir o nome, tão conhecido por tantas pessoas, mas tão pessoal para você. 

Essa imensidão, é praticamente impossível de ser dita com palavras. Amar é isso, imensidão.

E essa imensidão, eu só senti uma vez em toda a minha vida, por alguém localizado há uma grande distância, mais velho, falante de outra língua e o ser humano mais gentil e fabuloso que já conheci (e a alegria que me invade em dizer "conheci" após todos esses anos é indescritível). Acho que só senti um amor genuíno por meus meninos, em especial, por Chuck, que está sempre comigo e ali por mim, quando eu mais preciso.

Apenas fico grata, por saber que consigo sentir algo tão firme e genuíno por alguém como ele.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

O último texto das férias

A férias estão acabando, bem como minha procrastinação. 
Ao menos estou feliz pois ao que tudo indica uma fase bem ruim passou. Pensando melhor, feliz é um termo utópico, eu apenas estou satisfeita.
Durante muitos anos me culpei por não ser boa o suficiente para as pessoas, por não conseguir mantê-las em minha vida pelo tempo que eu gostaria, ou apenas por não conseguir estabelecer laços. Até eu perceber que eu não sou a única responsável por esses laços, e que pessoas, assim como eu, fazem escolhas para a sua vida, escolhas que irão melhorá-la ou não.
Se eu as perdoo pela dor causada a mim ? Perdão é uma habilidade divina que não me foi dada, e minha natureza não acredita que pessoas podem ser perdoadas. Eu simplesmente as deixo ir, e observo. A dor que me foi causada sempre volta, de uma maneira ou de outra, mas isso não é mais minha responsabilidade, são pessoas encarando seus erros, bem como estou encarando os meus. Elas são livres, assim como eu.
Fico feliz (e nesta sentença eu realmente quero dizer feliz), por ser exatamente a pessoa que eu sou. A pessoa insuportável, mal-humorada, rancorosa e preguiçosa e louca. A pessoa que prioriza sua banda preferida antes de todo mundo, menos dos seus pais. A pessoa que não se importa em declarar o seu amor em público pelo seu baterista preferido, ainda que os olhos alheios a julguem o tempo inteiro, embora as bocas não tenham coragem de dizer isso. Exatamente aquela que surta, chora, dá seu melhor e se doa em tudo que faz mesmo que se machuque. Esse sim é um dom que foi me dado, um dom de estar 800% em tudo o que eu gosto, penso e admiro. Da minha louca vontade de lutar por tudo o que desejo. E acima de tudo, feliz por ser difícil de lidar, extrema, reclamona e paranoica, dessa maneira quem é de verdade permanece. Não há espaço para gente mentirosa e que valoriza coisas fúteis e paralelas. Quem sente, ouve, grita, ama e está presente de verdade, permanece.

O resto, é somente o resto, e que lide com isso por si só.

-Biah Comeau (Julho de 2017)

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Nothing it all....




É apenas mais um feriado, sendo que a única diferença é que nesse em especial optei por não fazer nada.
Nada tem sido realmente a palavra que descreve minhas sensações, vontades e desejos. Nada.
Não sei ao certo se nada representa mesmo uma ausência de vontade ou um cansaço de tentativas frustradas. O vazio tomou conta completamente do meu ser, isso me conforta e ao mesmo tempo me assusta. Em minha concepção o ser humano morre por dentro quando perde toda a luz em fazer algo, aprender, sentir e ser, e isso eu perdi há muitos anos, tantos que sequer consigo contar direito. Porém, o nada que sinto é tão amplo que minha única preocupação é porque não encerro tudo isso de uma vez e de uma forma que seja rápida e indolor, para mim e para todos ao meu redor. E indolor no sentido de que terão que resolver uma série de papeladas fúnebres e não porque sentirão minha falta ou que eu represente algo.

Venho observando há longos anos o que sou, o que represento, o que penso ( e o que pensam), e sempre me deparo com a ausência de intensidade, reciprocidade e percebo o quanto sou indispensável na vida dos outros. Isso é extremamente desgastante, a consideração inexistente dói até em meus ossos. Definitivamente, após tanto tempo refletindo, a dor passou a ser vazio e o vazio passou a ser nada.

Como diria minha mãe :
"Nada, vezes nada, versus nada".

(Biah Comeau 16/06/17).

quinta-feira, 23 de março de 2017

Eu.

Beatriz acorda todos os dias pontualmente às 10h05 da manhã, o que seria considerado (bem) tarde para os padrões de trabalhadores assalariados do Brasil. Olha-se no espelho e apanha sua toalha para realizar sua higiene matinal. Após isso, enrola usando seu computador, atualizando-se das notícias sobre política, educação ou mesmo suspira de nostalgia vendo coisas sobre sua banda preferida, que permanece a mesma há cerca de onze de seus vinte e três anos.
Coloca sua roupa de trabalho, geralmente jeans preto e uma camiseta preta, acompanhados de tênis all star, ou coturno de couro, caso esteja chovendo. Após, desce para sua cozinha, verificando se há sobras do dia anterior ou se pode adiantar algum almoço para aguentar as aulas que ministrará ao longo do dia. Senta-se para ouvir a rádio, repleta de músicas dos anos dois mil, esperando mais uma vez que a banda canadense a qual tanto ama toque para alegra-la. Olha seu celular para verificar se tem algo importante, o que raramente acontece.
Finalmente organiza sua aparência e objetos que usará para desempenhar a sua função, saindo de casa para aguardar o ônibus.
Beatriz cumprimenta a todos quando chega a escola, troca palavras engraçadas e conversa amenidades. Organiza-se novamente, repassando o cronograma mental de tudo o que precisa realizar em cinquenta minutos, ou cem minutos. Dá suas aulas, que, em determinados momentos, lhe dão prazer (ainda que saiba que sua capacidade como profissional é miserável, e seus alunos estão expostos a uma formação bem longe da adequada), e, que em outros, lhe dão profundo desgosto e aumentam sua sensação diária de vazio.
Quatro ou seis aulas se passam, dependendo do dia, e ela volta para a sua casa. Dois dias da semana vai para a faculdade, nos demais, fica em casa para preparar e corrigir atividades, montar aulas ou mesmo procrastinar, à espera de mais um dia.
 Beatriz senta-se novamente a frente do seu computador e perde-se diante do maravilhoso mundo das redes sociais, que a distraem desde seu ensino médio e foram responsáveis por centenas de atividades mal feitas ou sequer feitas. Ri ao se recordar disso, e pensa em seus hábitos imutáveis. Pensa também, já que mencionou o ensino médio, que sua escolha em fazer faculdade de história foi feita naquele contexto. Lembra-se que ao matricular-se fez porque queria, e porque uma pessoa a qual se importava naquele momento estaria com ela. Percebe que teria feito diferente, pois a mesma decisão que lhe trouxe certa estabilidade no emprego (com ressalvas) lhe trouxe dor e grande parte dessa sensação de vazio e insatisfação que ainda a persegue diariamente. Analisa também que desta escolha vieram suas frustrações com política, com a vida e com os seres humanos que habitam o mesmo planeta. Pessoas mesquinhas, preconceituosas, estúpidas e insensíveis. Pessoas estas que perderam sua capacidade de colocar-se no lugar do outro e, diariamente, assistem seu fim, enquanto os que analisam o que ocorre tentam exaustivamente abrir-lhes os olhos, sem sucesso. Tamanha sensação de cansaço faz Beatriz debruçar-se sobre a única coisa que a mantém feliz por um longo período de tempo : sua banda preferida. 
Seu desejo desesperado de voltar para Dezembro do ano anterior, olhar nos olhos do grande amor de sua adolescência (ou mesmo vida) falando seu nome e reconhecendo seu grande sentimento e dedicação, o que parece cada vez mais distante, para o seu desespero. Esse questionamento constante contribui todos os dias para o seu mal humor, dificuldade em se aproximar das pessoas e mantê-las em sua vida, desesperança e apenas a percepção de suas falhas como estudante, professora, amiga e ser humano. Todos os dias um novo erro, e nenhuma atividade executada com perfeição ou, no mínimo, sem nenhum erro infantil. 

Seus projetos de vida simplesmente deixaram de existir, bem como o seu gosto e vontade de estar viva. Por fim, ela dorme, preparando-se novamente para um outro dia.


(Biah- Março de 2017)