O auge da pandemia e da maior crise que enfrentamos na história contemporânea. O caos está instaurado, em todos os sentidos.
É comum sempre fazer um balanço de como estão as coisas em cada semestre, e no altar de todos os meus privilégios ainda sinto que sempre vai ter algo errado, e que só vai melhorar quando eu for embora.
Voltei a usar essa rede mas por uma razão completamente diferente: meu trabalho! Tem sido um desafio e tanto, mas continuo dando meu melhor para que as crianças entendam as coisas.... então eu vejo o machismo, a violência policial, preconceitos, homofobia e vejo que falhei como profissional. Vejo que falhei como humana quando há milhares de pessoas morrendo diariamente e não consigo fazer um nada para ajudar a evitar isso e nem forças pra lutar que as autoridades competentes REALMENTE ajam de acordo com as suas funções. Vejo minhas crianças recorrendo ao tráfico, sendo presas com toda a truculência que o Estado oferece ao menino negro e pobre da periferia, e sinto meu coração despedaçado por eles, pelos meus "filhos" que meu coração adotou. E nunca consigo fazer nada, minha voz some diante de todo esse caos e o desespero toma conta.
E lembro dos meus erros, de todos eles, que deveriam ter me tirado do caminho docente faz muito tempo.
Todos os dias me questiono como esposa, amiga, filha e todos os papéis sociais que ocupo ou tenho que ocupar. Há horas que penso estar agindo certo e há momentos que não sei o que está errado e do porquê determinadas coisas acontecem, mas é sempre isso, sempre da mesma maneira. Faz tempo que desejo estar só, e ver isso se concretizando me assusta, mas, ao mesmo tempo, me conforta de saber que aquela menina do ensino médio que sabia que não iria levar ninguém e nada consigo estava certa. Ela sempre esteve e por mais que eu tente nadar contra a maré é isso que vai acontecer (e ainda bem!).
A sensação de "estar fazendo muito por quem faz pouco e estar fazendo nada por quem faz muito" não vai embora... e nem a sensação de ter escolhido tudo errado ao longo da vida. A cobrança mental de "aproveitar o isolamento para fazer algo" e o conflito entre "descanse, não terá outra oportunidade como essa" é algo que enlouquece qualquer um que pense demais. E está me enlouquecendo, num mar completo de desgosto.
Não sei se sairei "uma pessoa melhor" de tudo isso, e sinceramente espero que não se o melhor for mentir sobre minhas sensações, omitir o que penso e buscar atenção/consideração onde elas não são espontâneas. Resiliência não existe e é só uma palavra que se popularizou na boca daqueles que não sabem seu real significado.
E seguimos, um dia após o outro, na esperança de que um tiro na boca me impeça de pensar demais.
- Biah (13/06/2020)
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