
Finalmente organiza sua aparência e objetos que usará para desempenhar a sua função, saindo de casa para aguardar o ônibus.
Beatriz cumprimenta a todos quando chega a escola, troca palavras engraçadas e conversa amenidades. Organiza-se novamente, repassando o cronograma mental de tudo o que precisa realizar em cinquenta minutos, ou cem minutos. Dá suas aulas, que, em determinados momentos, lhe dão prazer (ainda que saiba que sua capacidade como profissional é miserável, e seus alunos estão expostos a uma formação bem longe da adequada), e, que em outros, lhe dão profundo desgosto e aumentam sua sensação diária de vazio.
Quatro ou seis aulas se passam, dependendo do dia, e ela volta para a sua casa. Dois dias da semana vai para a faculdade, nos demais, fica em casa para preparar e corrigir atividades, montar aulas ou mesmo procrastinar, à espera de mais um dia.
Beatriz senta-se novamente a frente do seu computador e perde-se diante do maravilhoso mundo das redes sociais, que a distraem desde seu ensino médio e foram responsáveis por centenas de atividades mal feitas ou sequer feitas. Ri ao se recordar disso, e pensa em seus hábitos imutáveis. Pensa também, já que mencionou o ensino médio, que sua escolha em fazer faculdade de história foi feita naquele contexto. Lembra-se que ao matricular-se fez porque queria, e porque uma pessoa a qual se importava naquele momento estaria com ela. Percebe que teria feito diferente, pois a mesma decisão que lhe trouxe certa estabilidade no emprego (com ressalvas) lhe trouxe dor e grande parte dessa sensação de vazio e insatisfação que ainda a persegue diariamente. Analisa também que desta escolha vieram suas frustrações com política, com a vida e com os seres humanos que habitam o mesmo planeta. Pessoas mesquinhas, preconceituosas, estúpidas e insensíveis. Pessoas estas que perderam sua capacidade de colocar-se no lugar do outro e, diariamente, assistem seu fim, enquanto os que analisam o que ocorre tentam exaustivamente abrir-lhes os olhos, sem sucesso. Tamanha sensação de cansaço faz Beatriz debruçar-se sobre a única coisa que a mantém feliz por um longo período de tempo : sua banda preferida.
Seu desejo desesperado de voltar para Dezembro do ano anterior, olhar nos olhos do grande amor de sua adolescência (ou mesmo vida) falando seu nome e reconhecendo seu grande sentimento e dedicação, o que parece cada vez mais distante, para o seu desespero. Esse questionamento constante contribui todos os dias para o seu mal humor, dificuldade em se aproximar das pessoas e mantê-las em sua vida, desesperança e apenas a percepção de suas falhas como estudante, professora, amiga e ser humano. Todos os dias um novo erro, e nenhuma atividade executada com perfeição ou, no mínimo, sem nenhum erro infantil.
Seus projetos de vida simplesmente deixaram de existir, bem como o seu gosto e vontade de estar viva. Por fim, ela dorme, preparando-se novamente para um outro dia.
(Biah- Março de 2017)
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