" Mas quando isso vai acabar?"
"Em três meses e sete dias"
E esse foi o recado dado por forças além de nossa compreensão a minha mãe. Todos fizeram seus calendários baseados nisso e crentes que não seria nada demais, mas foi, e foi muito mais do que se pode aguentar.
Esse ano foi um ano de perdas, e se parar para ler todas as postagens daqui se tratam sobre luto ou sobre como lidar com ele. Porém há situações, como pensei uns dias atrás, que não acreditamos, apenas aceitamos e é exatamente isso que se trata. É difícil e dolorido quando alguém de nosso convívio se vai, ainda mais antes da hora, ainda mais nessas circunstâncias (as quais não se deve mencionar aqui). Tivemos que ler, reler, entender e buscar razões que justificassem todo esse caos. Pensamos em quem se foi e principalmente em quem ficou. A dor de saber que os familiares primários da sua maior inspiração se foram todos em meses é horrível, dilacera qualquer um.
Acabou-se o cara mais engraçado do mundo, sem juízo e sem noção por muitas vezes. Acabou-se a camiseta do AC/DC e o som alto no carro sem cinto de segurança pois "não gosto de andar preso de jeito nenhum". Acabou-se o herói da minha infância. Acabou-se o motivo de ainda viajar pro interior, é o fim dele, do "bicudinho" pois "bicudão" era meu pai, e depois acabou ficando só "bicudo" mesmo. Acabou, e nem pudemos nos despedir de uma maneira digna e coesa. Que dor, que inferno. Acabou o vinil, acabou a cerveja, acabou-se o carro encostando na garagem do vô altas horas da noite. Acabou-se o tio, irmão, primo e pai. Acabou, como um sopro do vento, como se não fosse alguém de se admirar apesar de todos os pesares. Foi o fim mais doloroso que presenciei em quase trinta anos de vida.
Que você se perdoe e encontre finalmente a paz que procura e a única lição que aprendi esse ano foi essa, há coisas que não acreditamos, apenas aceitamos.
E é isso.
- Biah - Dezembro de 2022.